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Sempre que estou a caminho do trabalho, testemunho várias pessoas iniciando seu dia com a gloriosa prática da corrida. Ao vê-las no contra-fluxo dos carros, tenho a impressão de que estou administrando mal o meu tempo. Consigo encaixar minha “ginástica” de três a quatro vezes na semana, mas não se compara ao glamour de um piquezinho com aquele moletom em pleno horário de pico.

Há muitas eras participei de uma corrida de rua na qual deveria correr 6 km. Apesar de nunca ter participado de uma, com menor ou maior distância, na época achei que com a devida preparação, conseguiria cumprir bem o desafio de terminar a prova correndo e de preferência vivo, apesar dos “quilinhos” a mais que já me acompanhavam.

Durante a preparação percebi que 6 km não seriam tão tranquilos quanto imaginava. Eu vinha fazendo exercícios de quatro a cinco vezes por semana, o que reforçava a minha confiança, porém a diferença entre correr na esteira da academia e correr na rua, era grande. Treinando cheguei a completar a distância da prova somente uma vez e ainda assim devo ter dado algumas voltas meio “caminhada rápida” meio “corrida lenta”.

No dia da corrida, consegui acordar com a antecedência necessária (sou péssimo com horários) e percebi que o tempo ia ajudar, devia estar fazendo uns 20°C com o céu encoberto. Quase na largada encontrei um amigo que como eu também havia se preparado e sabia das dificuldades que cada grama a mais no corpo iria proporcionar. Conversamos rapidamente e combinamos de fazer o percurso juntos, sem gastar muita energia na largada para usarmos na segunda parte, onde sabíamos que teria maior valia.

Daí em diante meu senso observador começou a capturar imagens. Como um fotógrafo jornalístico, comecei a intuir aquela situação. Diferente da preparação, nas primeiras passadas eu já senti um certo desconforto, nenhuma simulação é capaz de prever o que realmente encontramos na “hora H”, e aí um bom planejador teria um plano B… Eu não!

Enquanto faltava 1 km para completar a metade da prova, o líder já subia no sentido contrário com lindas passadas largas e um sorriso queniano nos lábios. Pensei em todos os carboidratos que ingeri até aquele momento, acho que tinha reserva suficiente.

Na outra metade, o desafio era uma subida de pouco mais de 1 km. Superei-o correndo, mas em seguida meu alter ego preguiçoso me fez caminhar para tomar um fôlego, meu colega seguiu no seu leve “cooper”. Perto de mim, entre os despreparados, algumas mulheres e poucos homens, que eu não sabia se participavam da corrida ou da caminhada.

Comecei a interiorizar a situação (esse é um defeito que me persegue). Entre as metáforas mais clichês, existe aquela que diz que o caminho é sempre mais importante que a chegada; confesso que sempre olhei para esse caminho com otimismo, mas naquele caso, devido ao meu despreparo, o caminho era doloroso! Nele encontramos aqueles que nos dão água e incentivo, mas também vemos muitos “sorrisos amarelos” de quem se orgulha do pai, marido ou quem quer que seja, por estarem em melhores condições que as nossas.

Quando achei que estava na reta final para a chegada, havia um desvio de pelo menos 1,5 km a mais. Novamente, o desânimo afetou o meu outro eu preguiçosinho, mas como gosto de improviso, comecei a pensar em outras coisas; do tipo: o que eu poderia escrever sobre aquilo.

Não adiantou muito, o resultado foi desastroso! Cruzei a linha de chegada após 46 minutos, acho que uns 28 a mais que o “Paul Tergat” que passou por mim lá no começo. No geral, fiz o pior tempo, mas concluí o trajeto, entre caminhadas rápidas e corridas lentas.

Paradoxalmente todo aquele clima me fez bem. Apesar da falta de preparo e do sofrimento, realmente a chegada é compensadora. De mais a mais, pude perceber que essa dinâmica é o que mantém nossa corrida. Como tudo na vida, sofremos, planejamos, recomeçamos e seguimos sempre em frente.

Depois postaram a foto da minha chegada nesses perfis especializados… Cansado, sequer olhei para o fotógrafo. Mesmo “sem pódio de chegada ou beijo de namorada”, fiquei orgulhoso com meu percurso, afinal ele me proporcionou sensações que ninguém ali pôde ter. Terminei a prova prometendo que me prepararia melhor na próxima vez…

Nunca mais corri.

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